Sequencia didática - Tarsila do Amaral

Sequencia didática - Tarsila do Amaral
SEQUENCIA DIDÁTICA TARSILA DO AMARAL -Releitura - 2010

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Maria vai com as outras - Sylvia Orthof

           Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Aonde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo. Maria ia também. As ovelhas iam para cima. Maria ia também.
           Maria ia sempre com as outras.
           Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. Ai! Que lugar frio! As ovelhas pegaram uma gripe!!! Maria pegou uma gripe também. Atchim!
           Depois, todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também. Ai que lugar quente! As ovelhas desmaiaram. Maria também. Uf!Puf!
           Um dia todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló. Maria comia também. Que horror! Foi, quando, de repente, Maria pensou: “Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho de comê-lo?”.
           Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.
           Até que as ovelhas resolveram pular do alto da montanha para dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.
           Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé!
           E assim, quarenta e duas ovelhas pularam, quebraram o pé e choraram: mé! mé!
           Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante e comeu uma feijoada.
          Agora, mé, Maria vai para onde caminha o seu pé e cuidar da sua vida e nunca mais foi uma Maria vai com as outras.

FÁBULA: A GALINHA DOS OVOS DE OURO


Um camponês e sua esposa possuíam uma galinha que punha todo dia um ovo de ouro.
Supondo que devia haver uma grande quantidade de ouro em seu interior, eles a mataram para que pudessem pegar tudo.
Então, para surpresa deles, viram que a galinha em nada era diferente das outras galinhas.
        O casal de tolos, desse modo, desejando ficarem ricos de uma só vez, perdeu o ganho diário que tinham assegurado.
Autor: Esopo

Moral da História:

Quem tudo quer acaba ficando sem nada.

Fábula: A ONÇA E O BODE


            CERTO  DIA,  O  BODE  RESOLVEU  FAZER  UMA  CASA.
            ESCOLHEU  O  TERRENO,  LIMPOU  O  MATO,  TIROU  AS PEDRAS  E  DISSE:
            __AMANHà EU  VOLTO.
            A  ONÇA,  PASSANDO  POR  ALI,  PENSOU:
            __QUE  ÓTIMO  LUGAR  PARA  FAZER  MINHA  CASA.
            PEGOU  UMAS  TÁBUAS, CERCOU  O  TERRENO  E  DISSE:
            __AMANHà EU  VOLTO.
            NO  DIA  SEGUINTE  O  BODE  CHEGOU  E  DISSE:
            __AH,  DEUS  ESTÁ  ME  AJUDANDO!
            E,  ARRANJANDO  UNS  TRONCOS  DE  ÁRVORE,  LEVANTOU  AS  PAREDES  E  FOI  EMBORA.
            QUANDO  A  ONÇA  CHEGOU,  FOI  LOGO  PENSANDO:
            __AH,  DEUS  ESTÁ  ME  AJUDANDO!
            TROUXE  PALHA  E  SAPÊ  PARA  FAZER  O  TELHADO, DEPOIS  FOI  EMBORA.
            NO  OUTRO  DIA  O  BODE  DISSE:
            __AH,  DEUS  ESTÁ  ME  AJUDANDO!
            BOTOU  AS  PORTAS  E  RESOLVEU:
            __AMANHà   POSSO  ME  MUDAR  PARA  CÁ.
            E  FOI  EMBORA
            AO  VER  AS  PORTAS  NO  LUGAR,  A  ONÇA  PENSOU:
            __AH,  DEUS  ESTÁ  ME  AJUDANDO.
            TRATOU  DE  COLOCAR  AS  JANELAS  E  DECIDIU:
            __AMANHà MESMO  VOU  ME  MUDAR.
            O  BODE  CHEGOU  PRIMEIRO. ENTROU  NA  CASA E, DE REPENTE,  QUEM  APARECE?  A  ONÇA.
           __O  QUE  VOCÊ  FAZ  NA  MINHA  CASA?
           __SUA  CASA?  ESTA  CASA  É  MINHA – DISSE  A  ONÇA.
                                                                  
           MORAL DA HISTÓRIA: QUANDO  A  ESMOLA  É  GRANDE  O  SANTO  DESCONFIA!
                                                            ADAPTAÇÃO  DO  FOLCLORE

Jogral da pontuação - Graça Batituci

Sou um pinguinho legal,
Dou fim a um pensamento.
Meu nome é ponto final.
Estão me chamando... um momento.

Sou muito curioso.
Tudo, tudo, quero saber.
Por isso sempre apareço,
No fim de perguntas, querem ver?

Admiração, medo e espanto.
Alegria, dor e surpresa.
Sou o ponto de exclamação.
E na frase fico uma beleza!

Se alguém me perguntar.
Quem é você, seu Zezinho?
Eu sou os dois pontos:
Mostro que a fala está a caminho.

Sou um tracinho pequeno,
usado sempre em diálogos.
Indicar a fala de alguém
                        É bom, e eu não me calo.         

FÁBULA: O rato do campo e o rato da cidade



          Certo ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E convidou-o para um festim, marcando hora e lugar.
Veio o rato da roça, e logo de entrada muito admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papa-fina: queijo do reino, presunto, pão de ló, mãe-benta. Tudo isso dentro de um salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.
Puseram-se a comer.
No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinente, o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.
Não era nada, e o rato fujão voltou e prosseguiu o jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.
Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.
O compadre da roça franziu o nariz.
__Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto aqui é muito bom e bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.

Moral: Mais vale uma vida modesta com paz e sossego que todo o luxo do mundo com perigos e preocupações.

Monteiro Lobato

FÁBULA: O leão e o rato (primeira versão)


         Uma vez, quando o leão estava dormindo, um ratinho pôs-se a passear em suas costas. Isso logo acordou o leão, que segurou o bichinho com sua enorme pata e abriu a boca enorme para engoli-lo.
         ___  Perdão, rei dos animais -  gritou o ratinho. - Deixe-me ir, não o incomodarei mais. Quem sabe se um dia não conseguirei pagar-lhe este favor?
         O leão riu-se muito ao pensar na possibilidade de o ratinho ajudá-lo em alguma coisa. Afinal, soltou-o.
         Algum tempo depois, o leão caiu numa armadilha. Os caçadores, que desejavam levá-lo vivo ao rei, amarraram-no numa árvore, enquanto iam providenciar uma carroça para transportá-lo. Nesse momento, apareceu o ratinho.
         Vendo o apuro em que se encontrava o leão, num instante roeu as cordas que o prendiam à árvore.
          ___ Eu não disse que talvez um dia pudesse ajudá-lo? - lembrou o rato.

Moral da história: Uma boa ação paga outra.
Adaptado de Fábulas de Esopo


A CASA - ELIAS JOSÉ

ESSA CASA É DE CACO
QUEM MORA NELA É O MACACO
ESSA CASA TÃO BONITA.
QUEM MORA NELA É A CABRITA.                                                 
ESSA CASA DE CIMENTO                                                                                         
QUEM MORA NELA É O JUMENTO.
ESSA CASA DE TELHA,
QUEM MORA NELA É A ABELHA.
ESSA CASA DE LATA,
 QUEM MORA É A BARATA.
ESSA CASA É ELEGANTE,
QUEM MORA NELA É O ELEFANTE.
E DESCOBRI DE REPENTE,
QUE NÃO FALEI EM CASA DE GENTE.

A FESTA - Ieda Maria Kucera e Marília M. O. Silva

             
NA FESTA DA FLORESTA
FOI TODA A BICHARADA:
A BORBOLETA XERETA,
A MINHOCA DONDOCA,
A PERERECA SAPECA,
O ELEFANTE ELEGANTE,
O MACACO LEVADO,
O TIGRE COMILÃO.
MAS A FESTA, VEJAM SÓ!
ACABOU EM CONFUSÃO.
NA LISTA DOS CONVIDADOS, NÃO ESTAVA O REI LEÃO,
QUE FICOU MUITO ZANGADO,
RUGINDO FEITO UM TROVÃO.

O ÚLTIMO ANDAR - CECÍLIA MEIRELES


                                       
NO ÚLTIMO ANDAR É MAIS BONITO:
DO ÚLTIMO ANDAR SE VÊ O MAR.
É LÁ QUE EU QUERO MORAR.

O ÚLTIMO ANDAR É MUITO LONGE:
CUSTA-SE MUITO A CHEGAR.
MAS É LA QUE EU QUERO MORAR.

TODO OCÉU FICA A NOITE INTEIRA
SOBRE O ÚLTIMO ANDAR.
É LÁ QUE EU QUERO MORAR.

QUANDO FAZ LUA, NO TERRAÇO
FICA TODO OLUAR.
MAS É LA QUE EU QUERO MORAR.

OS PASSARINHOS LÁ SE ESCONDEM,
PARA NINGUÉM OS MALTRATAR:
NO ÚLTIMO ANDAR.

DE LÁ SE AVISTA O MUNDO INTEIRO:
TUDO PARECE PERTO, NO AR.
É LÁ QUE EU QUERO MORAR:

NO ÚLTIMO ANDAR.

OS CARTEIROS - ROSEANA MURRAY

                                           
ABRIR UMA CARTA,
O CORAÇÃO BATENDO,
É PRECIOSO RITUAL.
O QUE TERÁ DENTRO?
UM CONVITE, UM AVISO,
UMA PALAVRA DE AMOR
QUE ATRAVESSOU OCEANOS
PARA SUSSURRAR EM MEU OUVIDO?

SÃO COMO CONCHAS AS CARTAS,
GUARDAM O BARRULHO DO MAR,
O AR DAS MONTANHAS.
PARA MIM OS CARTEIROS
SÃO QUASE SAGRADOS,
UNICÓRINIOS OU MAGOS
NO MEIO DESSA VIDA BARULHENTA.

AS MENINAS - CECÍLIA MEIRELES

                                      
ARABELA
ABRIA A JANELA

CAROLINA
ERGUIA A CORTINA

E MARIA
OLHAVA E SORRIA:
“BOM DIA!”

ARABELA
FOI SEMPRE A MAIS BELA.

CAROLINA,
A MAIS SÁBIA MENINA.

E MARIA
APENAS SORRIA:
“BOM DIA!”

PENSAREMOS EM CADA MENINA
QUE VIVIA NAQUELA JANELA;
UMA QUE CHAMAVA ARABELA,
OUTRA QUE SE CHAMOU CAROLINA.

MAS NOSSA PROFUNDA SAUDADE
É MARIA, MARIA, MARIA,
QUE DIZIA COM VOZ DE AMIZADE:
“BOM DIA!”

AMIGOS DO PEITO - CLÁUDIO THEBAS

                                                                  
TODO DIA EU VOLTO DA ESCOLA
COM A ANA LÚCIA DA ESQUINA.
DA ESQUINA NÃO É SOBRENOME,
É ENDEREÇO DA MENINA.

O IRMÃO DELA É MAIS VELHO
E MESMO ASSIM É MEU AMIGO.
SEMPRE DEPOIS DO ALMOÇO,
ELE JOGA BOLA COMIGO.

JÁ O CARLOS ALBERTO,  DO LADO,
(DO LADO NÃO É NOME TAMBÉM)
TEM UMA BICICLETA LEGAL,
MAS NÃO EMPRESTA PRA NINGUÉM.

O BAIRRO ONDE EU MORO É ASSIM,
TEM GENTE DE TUDO QUE É JEITO.
PESSOAS QUE SÃO CHATAS,
E UM MONTE DE AMIGOS DO PEITO:

O BRUNO DO PRÉDIO DA FRENTE,
O RICARDO DO SÉTIMO ANDAR,
O IRMÃO DA LÚCIA DA ESQUINA,
O FILHO DO DONO DO BAR.

O NOME COMPLETO DELES
EU NUNCA SEI, OU ESQUEÇO.
AMIGO NÃO TEM SOBRENOME:
AMIGO TEM ENDEREÇO.

LILIBEL - LÚCIA TULCHINSKI

ERA UMA VEZ UMA GAROTA CHAMADA LILIBEL
E PARA COMEÇAR A RIMAR, EU VOU DIZER
QUE ELA TINHA OLHOS COR DE MEL.
DESENHAR BEM, PINTAR SEM DEIXAR VAZAR, CANTAR SEM DESAFINAR
NADA DISSO ELA FAZIA.
SEU TERROR ERAM AS AULAS DE GEOMETRIA.
DIZEM QUE ELA ERA UM GARRANCHO SEM FIM.
ÀS VEZES, TINHA NOTA VERMELHA NO BOLETIM.
ERA UMA MENINA COMPORTADA.
ALGUNS DIZIAM QUE ERA MUITO CALADA.
TINHA MEDO DA ÁGUA, DOS MENINOS E DO PROFESSOR
DE MATEMÁTICA.
AMAVA A PROFESSORA DE PORTUGUÊS, UMA SENHORA
MUITO SIMPÁTICA.
LILIBEL ACHAVA QUE ERA MUITO FEIA, MUITO BRANCA E BAIXINHA.
NA HORA DO RECREIO, SE NÃO VIESSEM CHAMÁ-LA
PARA BRINCAR ELA FICAVA SOZINHA.
APARELHO NOS DENTES FOI OBRIGADA A USAR.
SORRIA AMARELO PRATEADO QUANDO LHE PERGUNTAVAM
COMO FARIA PARA BEIJAR.
HAVIA UM GAROTO, O GUTO, QUE ELA ACHAVA LINDO.
MAS ELE NÃO LHE DAVA BOLA, ESTIVESSE INDO OU VINDO.
O SONHO DE LILIBEL ERA SER UMA GAROTA LINDA DE DOER.
DIA E NOITE ELA PERGUNTAVA: QUANDO ISSO VAI ACONTECER?
O TEMPO PASSOU E AS COISAS COMEÇARAM A MUDAR.
É QUE LILIBEL DESCOBRIU QUE TODO MUNDO NA CLASSE
TAMBÉM TINHA DO QUE SE QUEIXAR.
A SUA MELHOR AMIGA TINHA MEDO DE TROVÃO.
O GAROTO MAIS SABIDO FICAVA HORRÍVEL DE CALÇÃO.
A COLEGA DA CARTEIRA AO LADO ERA MEIO GORDINHA.
E O GAROTO DA DE TRÁS, UM TAMPINHA.
LILIBEL NÃO PRECISOU NEM DE FADA MADRINHA.
DEPOIS DISSO, SEMPRE QUE OLHAVA O ESPELHO, ELA
DIZIA:
EU SOU UMA GATINHA!

     O ESTADO DE S. PAULO, 07/10/95. ESTADINHO.




TEXTO DE FRUIÇÃO: A disciplina do amor


Foi na França, durante a segunda grande guerra. Um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e, na maior alegria, acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta a casa.
A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo animado atrás dos mais íntimos para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe. Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar ansioso naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava a sua vida normal de cachorro até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao seu posto de espera.
O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora, ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias. Todos os dias. Com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram -se para outros familiares. Os amigos, para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina. As pessoas estranhavam, “mas quem esse cachorro está esperando?”... Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho sempre voltado para “aquela” direção.
(TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 99-100)