Leitura deleite: Sua
Alteza, a Divinha
Ângela Lago
Era
uma vez uma princesa conhecida como Sua Alteza, a Divinha.
Na
época de se casar a Divinha resolveu o seguinte:
___
Só cão com quem fizer três adivinhações que eu não adivinhe e que adivinhe três
que eu fizer.
Não
era fácil e quem não conseguisse, forca!
Mesmo
assim apareceram quatro pretendentes. Lá se vão: rei, soldado, capitão, ladrão.
Um
dia, um homem que andava sempre com um livro de orações e por isto era
conhecido como Louva-a-deus. Este resolveu tentar a sorte. Antes de mais nada,
foi até a vizinha. Avisou que iria ao palácio logo que o sol raiasse e pediu
para ela tomar conta da sua vaca. A vizinha ficou super contente. Tinha certeza
que ele iria direto para a forca e que, portanto, da qui para frente a vaquinha
era dela.
Mas,
lá pelas tantas, a vizinha começou a cismar que o Louva-a-deus poderia desistir
no meio do caminho, voltar para a casa e tomar a vaquinha de volta. Por via das
dúvidas, preparou uma bonita rosca envenenada. E, assim que começou a
amanhecer, levou para o Louva comer na viagem.
O
Louva-a-deus desconfiou, e depois da primeira mointanha, jogou a rosca para um
cachorro.
Foi
o cachorro comer e cair morto. Vieram sete urubus comer o cachorro morto. E também
sete urubus morreram.
___
Eta vizinha! – disse o Louva-a-deus e continuou o caminho.
Depois
da segunda montanha, começou a chover. Para não molhar muito, Louva-a-deus se
abrigou debaixo de uma árvore e, como queria chegar limpinho, cobriu ochão com
sua manta.
Bateu
um vento e caiu, em cima de sua manta, um ninho com sete ovos de passarinho. Louva-a-deus
estava faminto. Mas detestava ovo cru e não achou com que fazer fogo.
Os
gravetos estavam todos molhados. Foi aí que se lembrou do livro de orações. Como
não tinha outro jeito, acendeu com o livro, uma fogueira.
Cozinhou
os ovos, comeu, descansou um pouco e continuou o caminho.
Lá
pela terceira montanha, sentiu sede. Não havia rio por perto. Viu um coqueiro,
subiu no coqueiro, apanhou um coco e tomou a água de coco.
Foi
então que começou a se preocupar. Tentou lenbrar as adivinhas que conhecia, mas
nenhuma parecia difícil para a princesa. E ... ele já estava entrando no
palácio quando resolveu três “o que é, o que é” a respeito do que havia
acontecido na viagem:
__
Depois de morto, um coitado
Matou
sete bem matado.
Outros
sete caíram na manta.
Cozinhei
em palavra santa.
Entre
o céu e a terra encontrei,
Já
na vasilha, a água que tomei.
Sua
Alteza, a Divinha, pediu um tempo. Fez o que pode. Pensou e repensou mas não
adivinhou nem o terceiro “o que é”.
___
Agora é sua vez – disse a princesa. – E se não acertar, forca.
Foi
lá dentro, apnhou um inseto, por sinal um baita lova-a-deus.
E
com ele dentro das duas mãos bem fechadas, perguntou:
___
O que é, o que é que tenho na mão?
O
moço sentiu um aperto no coração. E falando de si, suspirou:
___
O louva-a-deus está apertado!
A
princesa levou um susto danado e perguntou como é que ele tinha conseguido
acertar. O Louva-a-deus, sendo sincero, respondeu que não tinha sido difícil.
___
Ainda por cima quer me fazer de besta! – disse a Divinha.
Foi
lá dentro, pegou um quadro, pintou tudo de preto e cobriu com uma toalha de veludo.
Voltou brava:
___
Adivinha!
O
Louva ficou aflito. A situação era terr´vel.. se não acertasse, forca. E ele
achava que não tinha a menor chance de acertar:
___
Agora o quadro está preto ... – o Louva deixou de escapulir na aflição.
A
divinha quase caiu para trás. E ainda por cima ele disse que tinha sido fácil.
Então
a princesa conseguiu um pouco de estrume de boi, embrulhou bem e colocou dentro
de uma rica caixa de jóias. Mandou os vassalos tocarem as trombetas e entrou
com a caixa numa bandeja de prata, forrada de seda.
A
esta altura, a corte estava torcendo para o Louva-a-deus adivinhar. Ele,
nervoso, bateu a mão na testa e desabafou:
___
Ninguém sabe que eu sou um adivinhador de merda!
E
acertou! Foi assim que o Louva se casou com a princesa.
Para
o sossego da corte, ela deixou de ser arrogante e nunca mais quis saber de
adivinhações.vivem até hoje muito felizes: a Divinha, o moço bonito do seu
coração e a vaquinha. Mas claro! O Louva foi buscar sua vaquinha. E a vizinha
caiu dura e roxa de raiva e inveja.
Retirado do livro Construindo a escrita, vol. 2, de
Carmen Silva Carvalho. São Paulo: Ática. ( O texto foi adaptado para fins
didáticos)
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