Quando o professor de matemática veio com aquela história de Campeonato de Tabuada, Lilibel desconfiou que estivesse em apuros. As perguntas seriam orais e venceria quem acertasse o maior número de respostas. O problema não era a matemática e, sim, um medo guardado a sete chaves. Um gigante invisível que a acompanhava de segunda a sexta-feira em todas as horas do dia. O medo de Lilibel chamava-se timidez. Ela preferia fazer dez provas bem difíceis a participar daquela competição. O campeonato começaria logo na primeira aula do dia seguinte.
Lilibel dormiu muito mal naquela noite. Teve pesadelos cheios de números. Todas as tabuadas estavam na ponta da língua, mas o medo de falar em público não saia de sua cabeça. Medo X Medo era igual a muito medo.
As preces de Lilibel para que o professor ficasse doente não foram atendidas. Lá estava ele, com o maior sorriso no rosto, pronto para começar o campeonato de Tabuada. Logo, os nomes começaram a ser chamados. Primeiro foi o Carlinhos, depois o Heitor, a Joana, a Laís. Foi então que ela ouviu o seu nome: - Lilibel, é a sua vez. Quanto é quatro vezes seis? Ela sabia que a resposta certa era 24, mas perdeu a fala e os seus primeiros pontos.
No recreio, Lilibel foi chorar no banheiro. Lá estava Tate, sua melhor amiga, que também tinha lá os seus medos.
__ Lilibel, não chore, você só precisa criar coragem. A primeira vez que derrotar o medo, ele vai embora para sempre.
Dois dias depois, começou a segunda etapa da competição. O primeiro a ser chamado foi o Joaquim. A pergunta era: - quanto é nove x sete? O aluno errou a resposta. Lilibel sentiu que chegara a hora de dar uma rasteira no medo e, tremendo, levantou o braço.
__ Pode responder Lilibel – disse o professor.
Os olhos de todos os colegas de classe voltaram-se surpresos para ela, que, com a voz trêmula disse: - Ses ...sen...ta e tr ..ês.
__ Resposta certa! Ponto para Lilibel.
Tate não se conteve e gritou:
__ É isso aí, garota!
Lilibel sentia-se leve como uma pluma. Tinha vontade de abraçar o mundo inteiro. Para ela, aquela era uma grande vitória. De repente, um bilhete aterrizou em sua carteira. Nele estava escrito:
“Lilibel, você tem uma voz muito bonita. Zeca”.
Com o rosto queimando feito brasa, Lilibel sorriu para o Zeca. Ele também estava vermelho como pimenta-malagueta. E sorria.
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