Sequencia didática - Tarsila do Amaral

Sequencia didática - Tarsila do Amaral
SEQUENCIA DIDÁTICA TARSILA DO AMARAL -Releitura - 2010

sábado, 29 de dezembro de 2012

Leitura de fruição: ASA CURTA

            Asa curta era um passarinho já muito velho,  mas que ainda não sabia voar. Ela tinha aprendido, em seus oito anos de vida, muita coisa que nenhum passarinho havia aprendido antes. Asa Curta sabia ler, dançar desde o tango  argentino até a dança-do-bico-pro-ar.
            Havia ainda muita coisa mais que Asa Curta fazia, diferente de tudo quanto os outros passarinhos sabiam fazer: dava cambalhota como gente de circo, levantava galho de árvore com uma pata só. Imitava voz de homem e de mulher, assobiava comendo alpiste. Ele era um grande artista.
            Ele vivia triste, pois de que adiantava fazer tudo isso, senão sabia fazer o que mais novo e o mais analfabeto dos passarinhos de qualquer floresta  ou de qualquer cidade era capaz de fazer?
            Sua tristeza ainda era  maior quando seus amigos chegavam de viagem. Um dia era o Pardal Ambulante, que tinha visitado a Argentina e corria logo para contar a Asa Curta:
            __ Mas é impressionante, companheiro, como é que o povo lá dança tango igualzinho você sabe dançar!
            No outro dia era o Pica-pau “Leva-e-Traz”, que tinha ido até a Rússia vender pau-brasil e comprar madeira russa pros pica-paus brasileiros.
            __ Nossa,  Asa Curta, eu vi o pessoal dançando na rua como você.
            Ele morria de vontade de ver como é que cada povo dançava a sua dança, mas não podia chegar a  lugar nenhum só andando. Quando os outros passarinhos lhe perguntavam porque ele não viajava também, Asa Curta, com cara muito triste, saía sempre com desculpas:
            __ Eu já estou velho, não agüento mais essas viagens. Já viajei muito quando era moço, aprendi muita coisa. Agora prefiro ficar por aqui mesmo.
            Um dia, Asa Curta começou a pensar em tudo quanto sabia e ficou admirado com a sua sabedoria. Ele descobriu que, mesmo sem voar, ele conhecia mais coisas e lugares do que todos os outros passarinhos. Enquanto os outros usavam as asas e os olhos para conhecer o mundo e as pessoas, ele usava a inteligência e a memória.
            Deste dia em diante, Asa Curta passou a ser também o passarinho mais feliz da redondeza.
                        
                           Gilberto Mansur

                           In: Asa Curta, São Paulo, Ed. Vertente

Nenhum comentário: