Sequencia didática - Tarsila do Amaral

Sequencia didática - Tarsila do Amaral
SEQUENCIA DIDÁTICA TARSILA DO AMARAL -Releitura - 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

Projeto Meu bairro, minha sala de aula e eu

Este projeto tem sido uma prática anual com minha turma da 2ª série onde trabalho na rede municipal. Embora cada ano tenha havido uma alteração, felizmente há acréscimos de atividades ou com enfoques mais precisos, o que não é de se admirar, uma vez que cada turma tem um ritmo e necessidades diferentes.
Uma vez que a faixa etária dos alunos nesta série corresponde ao estágio cognitivo que segundo Piaget está no concreto e dessa forma, a abstração não pode ser esperada neste período. Por conta disso, as atividades pedagógicas partem do concreto, da visualização, da percepção e em resultado, um suporte de hipóteses é desenvolvido habilitando o aluno construir os seus conceitos, seu conhecimento do conteúdo abordado nas aulas.
A partir desta fundamentação teórica costumo iniciar o ano letivo com o projeto “Meu bairro, minha sala de aula e eu” objetivando os alunos a se situarem em um registro cartográfico e bem como analisarem as diferentes ocupações do nosso território, no caso o bairro em que eles moram e que situada à escola. Somando com estes aspectos, este projeto possibilita a reflexão sobre as diferenças da ocupação do homem no meio de forma planejada e a desordenada e as suas conseqüências imediatas e em longo prazo.
O período de desenvolvimento deste trabalho é de um bimestre, no meu caso, costumo aplicá-lo no primeiro de cada ano letivo. No final do projeto os alunos têm construídos conceitos e uma base para compreenderem a cartografia nos anos escolares seguintes. Além disso, os alunos desenvolvem um olhar crítico das condições do seu meio e apontam possíveis soluções que podem ser aplicadas para rever esta realidade estudada.
As áreas do conhecimento que são trabalhadas são: Língua Portuguesa, Matemática, História, Ciências e Arte. Embora na rede municipal em sua grade curricular não consta a Parte Diversificada como Cidadania, Meio Ambiente e Sociedade e Cultura, este trabalho pedagógico propicia situações que podem abordá-los.
A escola que este projeto se desenvolveu está localizada na divisa do bairro Chã da Jaqueira e o Loteamento Jardim Petrópolis II e os meus alunos provêm destes dois logradouros, em Maceió. Estou envolvida em uma atividade (não condizente ao magistério) que me permite conhecer de perto estes dois locais.
Dessa forma, tive condições de perceber com antecedência quais os locais que eu deveria levar os alunos e assim para que eles observassem alguns aspectos, tais como: ocupação desordenada e ocupação ordenada; bairro planejado e não planejado; os tipos de ruas (calçada, asfaltada e sem pavimentação); as condições das calçadas para trânsito dos pedestres, principalmente para deficientes visuais, cadeirantes, pessoas idosas, entre outros; o esgoto a céu aberto ou não; a higiene nas ruas; o destino dado ao lixo; as condições dos terrenos baldios; ruas largas, estreitas, curvas, sem saída, becos, entre outros; organização de quadras; os benefícios espaços territoriais de praças, posto de saúde, escolas, espaço para lazer, terminal e parada de ônibus; a ocupação do homem no espaço com planejamento e sem planejamento e também a ocupação das encostas e suas conseqüências para o homem e o meio ambiente.
Com estes pontos em mente, divido a turma em dois grupos, que felizmente é possível, pois as turmas em que trabalho não ultrapassam a 28 alunos, este ano, por exemplo, é de 26 alunos. Um dia vou com mais dois funcionários da escola para o sentido Chã da Jaqueira e em outro dia, se possível na mesma semana, no sentido Loteamento Jardim Petrópolis II. Convém ressaltar a importância do trabalho coletivo da comunidade escolar, pois sem a participação deles seria inviável este deslocamento, e além de necessitar de outro colaborador para ficar supervisionando o outro grupo que fica assistindo um filme, geralmente referente a um tema trabalhado na mesma semana.
Antes da saída da aula de campo reviso alguns conteúdos trabalhados os quais serão observados e bem como uma postura educada em público que cada aluno deve tomar ao perceber alguns pontos negativos na comunidade visitada. Convém destacar que durante este percurso, em vários momentos havia uma parada para se refletir e questionar os aspectos vistos ou discutidos na sala de aula, e também era registrado por meio de fotografias.
Após a visita dos dois grupos aos dois locais é realizada a socialização dos conhecimentos adquiridos. A turma é dividida em grupos no máximo de quatros elementos, tendo por meta destacar os pontos positivos e negativos do que foi observado. Isto é demonstrado em desenho e escrita em papel 40. Em seguida o grupo expõe o seu trabalho para a classe e é feito um mural com estas produções. O próximo passo, em outro dia, é realizada a produção de texto em dupla, narrando a visita aos logradouros com seus aspectos positivos ou negativos.
Paralelamente as estas atividades os alunos estudam o gênero textual poesias com o mesmo eixo temático, destacando as suas características pertinentes. Iniciam com a cantiga de roda “Se esta rua fosse minha” e seguindo outros poemas que fazem alusão a este tema, tais como: “Se esta rua fosse minha” de Eduardo Amos e “Paraíso” de José Paulo Paes. A partir destes a turma faz coletivamente faz a sua versão sendo a professora como escriba. Em seguida, estudam o poema “Cidadezinha Qualquer” de Carlos Drummond de Andrade e eles fazem uma versão coletiva, a qual fica fixada na parede da sala de aula.
A próxima aula deste projeto é destacada que os desenhos que deles sobre os locais visitados são uma descrição da realidade territorial, e o mesmo têm feito o homem já há muito tempo em sua história retratando o seu espaço conquistado ou dominado. Apresento alguns mapas antigos durante a ocupação portuguesa em nosso país para que eles percebam os avanços desta descrição ao longo do tempo. São demonstradas outras representações de nosso planeta como o globo terrestre e o planisfério, apresentando suas diferenças e as aplicações para o homem. Também é destacado o porquê das cores nos mapas e do uso da legenda. Os alunos recebem um planisfério para pintá-lo com duas cores (marrom e azul) as quais representam o solo e a água respectivamente. Também fazem uma legenda para identificar a representação cartográfica.
No próximo momento, eles vão retratar a sala de aula ao fazer um croqui com uma legenda. Todos recebem um desenho retangular do formato da sala de aula. Eu faço o mesmo no quadro-de-giz e vamos juntos representar com figuras geométricas o espaço de aula. Com a legenda eles identificam: o lixeiro, a mesa da professora, as mesas dos alunos ocupadas e desocupadas e as cadeiras vazias e ocupadas, e outros elementos que estão na sala. São destacados aos alunos que para fazer as diferenciações do mesmo item, mas em situações diferentes são usadas cores diferentes, como mesas e cadeiras desocupadas das ocupadas. Para isto, a necessidade da legenda.
Também paralelo a este período os alunos estudam as figuras geométricas planas e os sólidos geométricos para facilitar a visualização do imaginário com o concreto. Desta forma, há um suporte de conhecimento para a continuidade do projeto.
Após estes passos, é produzida a maquete da sala de aula. É um trabalho geralmente em dupla com sucata (caixa de sapato, caixa e palito de fósforo, caixinhas de remédios, tampas de garrafa pet, entre outros materiais). Costumo eu mesma cortar ao meio a altura das laterais das caixas com estilete para evitar acidentes e facilitar o manuseio dos alunos ao colarem os materiais. Costumo dizer para eles que vamos imaginar que somos gigantes e cortamos as paredes da sala de aula até uma certa altura e a retiramos com o telhado. E daí, vamos olhá-la, o que veremos? Apenas a superfície dos móveis. Ao apresentar de forma lúdica os procedimentos, eles percebem com maior facilidade a representação cartográfica.
Tendo todos concluídos sua maquete, eu cubro com plástico filme e prendo-o firmemente com fita adesiva. Em seguida, a dupla com marcador permanente desenha o contorno do que está colado na maquete. Como socialização é destacada que os desenhos no plástico filme é uma retratação de uma realidade concreta, como o é os mapas, os quais representam os limites dos territórios, os rios, os mares, as ilhas, entre outras características. Dessa forma, meu intuito é possibilitar a mediação dos conceitos cartográficos, e bem como, que este conhecimento não é algo tão distante de nossa realidade e esta prática é utilizada em diversos setores da nossa sociedade.
No próximo momento deste projeto, gosto de explorar o livro Zoom de Istvan Banyai que é composto só de gravuras interligadas, uma está contida na outra. Ele inicia a partir de um desenho (crista de um galo) vai se distanciando até chegar o espaço sideral onde a Planeta Terra de tão distante se torna um ponto e por fim desaparece. É bem interessante, pois permite ao aluno um ponto de vista diferente ao que ele usa no seu cotidiano. Eu faço uma leitura compartilhada, virando folha por folha para os alunos indagando o que será aquela gravura. Ao terminar esta leitura interpretativa coletiva cada aluno faz individual ou em dupla a leitura do livro.
Por fim, para que eles tenham uma visão do macro para o micro é apresentado por meio de um Data Show e um aplicativo do Google, o qual é possível visualizar a partir do planeta Terra e ir enfocando aos poucos Brasil, Alagoas, Maceió, o bairros que circundam a escola e por fim, até é possível localizar a escola com seu telhado e as ruas por onde fizemos as duas aulas de campo.
Esta tecnologia foi uma das atividades que foram acrescentadas ao projeto. De fato, o resultado desta aula é supreentendente. As descobertas, as conclusões dos alunos durante as projeções são incríveis. Percebi que eles entenderam, é como se eles estivessem finalmente montados o quebra-cabeça. Eles próprios perceberam que o micro está dentro do macro, como um deles disse: “Olha tia, como o livro do Zoom que nós vimos!” Creio que atingi o meu objetivo, talvez nem todos, mas a maioria acredito que sim. E assim, eles tenham prazer em estudar Geografia, principalmente os mapas, que infelizmente alguns têm dificuldade de compreendê-los e até aversão, por não ter sido trabalhado nos anos iniciais estes conceitos básicos de cartografia.

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